Faleceu neste último dia 22 de Maio, o Sr. Silvio Xavier; antigo comerciante cachoeirense, amigo da comunidade e muito querido pela AMIC – Associação Cultural Amigos de Cachoeira do Campo.
Silvio Ferreira Xavier nasceu em Cachoeira do Campo em 30 de julho de 1917, filho de Joaquim Ferreira Xavier - o seu Quinca - e Minervina Ferreira Xavier. "Meu pai fez o primeiro sistema público de água encanada de Cachoeira quando ele era vereador. Os tubos de ferro passavam aqui na frente [Rua Sete de Setembro] e iam pros chafarizes." Seu Silvio casou-se aos 25 anos com Maria de Lourdes Barbosa Xavier com quem teve 14 filhos, 3 dos quais faleceram ainda jovens. "Eu morava perto da casa dela. Aí nós começamos a namorar de longe. Um dia eu criei coragem e pedi ao pai dela a mão de sua filha. Ele era bonzinho e deixou." Aliás Cachoeira tinha seus pontos de encontro e lazer: "Era domingo depois da missa, todo mundo ficava passeando no adro e na praça. Os rapazes olhavam as moças de longe e depois, se elas correspondiam, falávamos que estávamos namorando!".
O trabalho e sua venda, a Casa Viúva Xavier
O trabalho começava cedo. "Meu primeiro serviço era correr Cachoeira toda a pé para buscar ovos pra João Fiúza, que os despachava por trem pro Rio de Janeiro!" Aos poucos a modernidade começou a chegar. "O primeiro caminhão de Cachoeira foi nosso. Quando ele apontava lá no começo da ladeira [perto da Padaria D.Bosco] era uma festa! A meninada saia da escola e vinha correndo atrás dele. Era uma alegria só". Depois veio a eletricidade: "Aí compramos o primeiro rádio de Cachoeira [que ainda existe]. Era o maior alvoroço aqui na venda de tardinha, todo mundo escutando o programa do Compadre Belarmino [antigo programa da Rádio Inconfidência]. Ríamos bastante."
Alguns casos hoje parecem estranhos, pra não dizer cômicos: "Um dia uma vaca derrubou meu irmão e pisoteou ele todo, ele ficou muito machucado, ruim mesmo. A saída foi colocar ele numa padiola e levá-lo desse jeito até Ouro Preto passando aqui por cima [passando pelo Tombadouro e por São Bartolomeu!]. Foram correndo uns trinta homens! Quando os da frente cansavam, se revezavam. E assim foi até chegar a Ouro Preto. E meu irmão, mesmo sacolejando no trajeto, ficou são e salvo!" Outro caso interessante: "Tinha um freguês que não podia descuidar dele, sempre que podia enfiava a mão na gaveta e tirava dinheiro. Um dia resolvi lhe dar um susto: Armei uma ratoeira na gaveta! Não deu outra. Traaa! Peguei o gatuno!" Seu Silvio completa, "mas ele era exceção, o povo de Cachoeira sempre foi muito honesto". Sabe como se conservavam as bebidas geladas? "Punha as garrafas dentro de um caixote com serragem e sal, e elas ficavam fresquinhas, mas geladas mesmo não. Era nossa geladeira! E assim tomávamos nossa cerveja, mesmo um pouco salgada" brinca seu Silvio.
"Meu pai morreu quando eu era muito jovem. A venda, por isso, passou a se chamar Casa Viúva Xavier, homenagem a minha mãe que batalhou pra nos criar". A venda histórica "seu" Silvio herdou do pai, que por sua vez irá passá-la ao filho e este ao neto. Quatro gerações contando a história de Cachoeira! Quem vier passear na nossa terra não pode deixar de conhecer a venda do "seu" Silvio e nem deixar de prosear com seu simpático dono.
Após ser velado na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, da qual era vizinho e sua viúva D. Lourdes fora zeladora por muitos anos, seu corpo foi sepultado nesta manhã do dia 23 de Maio no Cemitério do Santíssimo Sacramento na Matriz de Nossa Senhora de Nazaré.
Nota: A sua viúva Dona Lourdes e aos filhos e netos, nossos sinceros sentimentos e a certeza de que os ensinamentos de Sr. Silvio Xavier ficarão para sempre nas páginas da história de nossa Cachoeira do Campo.
Rodrigo Gomes
Presidente da AMIC
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